Ensaio: O QUE É FILOSOFIA


De novo me perguntam e vacilo em responder à questão. Como dizer o que é filosofia sem o uso da tópica, do jargão? Não posso dizer ao tio, mestre de obras, que filosofia é a ciência do ser enquanto ser, que é conhecimento racional por meio de conceitos, ou ciência da ciência em geral, ou matemática universal, produção de conceitos. Para ele, produzir é tornar visível, o mais visível possível, fazer da coisa, parte a parte, um todo, cuja grandeza é medida em andares... Para ele (apesar do Deus invisível), o mundo é bastante sólido. Aliás, não seria ele o responsável pela artefatura do mundo? Em redor (vocês veem) paredes, muros, prédios, todos erguidos por ele (isso é produzir). Eu, que sou também materialista, até ousaria dizer, num repente de generalização: ele é quem construiu o mundo. Mas, e eu — com a modesta filosofia? Que faço? Como explicar o conceito ao homem do concreto? Como convencê-lo (como Paulo) a crer nas coisas invisíveis?
            Restrinjo-me a uma análise de ofício, e repito um velho vício meu, que é reduzir a filosofia (que é muito mais que isso) a uma questão de epistemologia: se o engenheiro possui um conhecimento teórico, o mestre de obras possui um prático. Como distinguir o prático do teórico? Por que são conhecimentos, por que são diferentes? Nisso, cometo aquele crime que Sócrates tanto denunciava: tomar o particular pelo universal, a parte pelo todo, o caso pela regra. Mas tenho esperança de que nessa precipitação filosófica eu faça com que a invisível essência da filosofia venha à luz.

Eliakim Ferreira Oliveira, São Paulo, 3-5-2020

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