Crônica: A FÁBRICA DE HISTÓRIAS
Chamei-o da
janela. Acho que ele estava lavando as roupas.
— O que é? - grita do quintal.
— Vem aqui, rápido - eu digo.
A passos de tartaruga, ele entra no quarto.
— O que é?
Olho nos olhos dele, digo:
— Me conta uma história.
— Não tenho nenhuma para contar agora - responde secamente, mau humor indiscreto e sincero.
Mal sabia ele que eu já sabia da resposta. Ninguém tem uma história para contar assim, de pronto, agora, de repente. As histórias precisam de tempo para serem fabricadas. Antes de contar a história, a pessoa pensa na história, na verdade, ela já estava pensando nela, engordando-a. Muitas vezes, a história só estava lá à espera de alguém para ser assaltado por ela:
— Você sabia... Deixa eu te contar... Soube da última... Você não acredita...
A fábrica de histórias precisa de um bom estoque, funcionários que vestem a camisa da empresa, que têm vontade de fazê-las. Sem contar a matéria-prima, indispensável: as sensações, as surpresas, as lágrimas, a gargalhada, as palavras. As palavras! Muitas vezes, temos a história, mas não temos as palavras. É uma bruta história. É só pau, pedra, ferro: não é cadeira, não é estátua, não é ferrovia. Aí dizemos:
— Me faltam as palavras.
Demoramos para contar certas coisas. Às vezes até para nós mesmos. Precisamos tomar distância, tomar partido, saber do que aquilo é feito, que técnica usar. Não queremos que as histórias se tornem só uma gargalhada escandalosa ou só um choro envergonhado.
— Não tenho nenhuma para contar agora - ele me disse.
Mal sabia ele que eu já estava fabricando uma.
— O que é? - grita do quintal.
— Vem aqui, rápido - eu digo.
A passos de tartaruga, ele entra no quarto.
— O que é?
Olho nos olhos dele, digo:
— Me conta uma história.
— Não tenho nenhuma para contar agora - responde secamente, mau humor indiscreto e sincero.
Mal sabia ele que eu já sabia da resposta. Ninguém tem uma história para contar assim, de pronto, agora, de repente. As histórias precisam de tempo para serem fabricadas. Antes de contar a história, a pessoa pensa na história, na verdade, ela já estava pensando nela, engordando-a. Muitas vezes, a história só estava lá à espera de alguém para ser assaltado por ela:
— Você sabia... Deixa eu te contar... Soube da última... Você não acredita...
A fábrica de histórias precisa de um bom estoque, funcionários que vestem a camisa da empresa, que têm vontade de fazê-las. Sem contar a matéria-prima, indispensável: as sensações, as surpresas, as lágrimas, a gargalhada, as palavras. As palavras! Muitas vezes, temos a história, mas não temos as palavras. É uma bruta história. É só pau, pedra, ferro: não é cadeira, não é estátua, não é ferrovia. Aí dizemos:
— Me faltam as palavras.
Demoramos para contar certas coisas. Às vezes até para nós mesmos. Precisamos tomar distância, tomar partido, saber do que aquilo é feito, que técnica usar. Não queremos que as histórias se tornem só uma gargalhada escandalosa ou só um choro envergonhado.
— Não tenho nenhuma para contar agora - ele me disse.
Mal sabia ele que eu já estava fabricando uma.
São Paulo, 25-2-2019
Comentários
Postar um comentário