Crônica: CONHECI O CARLOS LYRA
Ele costuma
ficar na Paulista. Usa um microfone na lapela, óculos, chapéu de pescador e
parece o Carlos Lyra. O surpreendente é que ele canta como o Carlos Lyra.
Ouvi-o cantar 'Garota de Ipanema' e logo pensei que era o Carlos Lyra que
estava cantando. Quando ouvi 'Lobo bobo', tive a certeza: é a voz do Carlos
Lyra! Dei uns trocados para ele. Ele merecia bem mais que isso. Comentei:
— Você é o Carlos Lyra, não é? - sabia que ele não era, mas queria ver qual a reação dele diante de alguém que o confunde com seu provável ídolo.
— Já me falaram isso - ele me respondeu: - É que ouço muito ele.
Só podia ser a convivência. Quando convivemos muito com uma pessoa, pegamos alguns hábitos dela, trejeitos, a entonação da voz. Só de falar ao telefone com um tio do Paraná, eu já impostava a voz. Uma amiga ficou uns meses em Belo Horizonte, e já voltou com sotaque. Ele é o caso extremo: conviveu tanto com a voz do Carlos Lyra que se transformou no Carlos Lyra. Deve chegar em casa com um orgulho. Olhar-se ao espelho: "mais um dia, hein, Carlinhos". O nome dele é Tim, mas a esposa já se acostumou a chamá-lo de Carlinhos. Ele não reclama:
— Não, amor, continue, eu até gosto.
Não duvido se já não tenha chamado o melhor amigo (que deve chamar-se José, Alfredo, Paulo) de Beto.
— Beto? Eu sou o Zé, Tim.
Ele se desculpa. Mas no fundo ainda crê que aquele com quem falava era Roberto Menescal, o Beto, parceiro inseparável.
Não o condeno por imaginar viver uma vida de outro. Quem nunca quis ser o ídolo? Eu mesmo, se não fosse quem sou, queria ser Marcelo Mastroianni.
— Você é o Carlos Lyra, não é? - sabia que ele não era, mas queria ver qual a reação dele diante de alguém que o confunde com seu provável ídolo.
— Já me falaram isso - ele me respondeu: - É que ouço muito ele.
Só podia ser a convivência. Quando convivemos muito com uma pessoa, pegamos alguns hábitos dela, trejeitos, a entonação da voz. Só de falar ao telefone com um tio do Paraná, eu já impostava a voz. Uma amiga ficou uns meses em Belo Horizonte, e já voltou com sotaque. Ele é o caso extremo: conviveu tanto com a voz do Carlos Lyra que se transformou no Carlos Lyra. Deve chegar em casa com um orgulho. Olhar-se ao espelho: "mais um dia, hein, Carlinhos". O nome dele é Tim, mas a esposa já se acostumou a chamá-lo de Carlinhos. Ele não reclama:
— Não, amor, continue, eu até gosto.
Não duvido se já não tenha chamado o melhor amigo (que deve chamar-se José, Alfredo, Paulo) de Beto.
— Beto? Eu sou o Zé, Tim.
Ele se desculpa. Mas no fundo ainda crê que aquele com quem falava era Roberto Menescal, o Beto, parceiro inseparável.
Não o condeno por imaginar viver uma vida de outro. Quem nunca quis ser o ídolo? Eu mesmo, se não fosse quem sou, queria ser Marcelo Mastroianni.
São Paulo, 9-3-2019
Comentários
Postar um comentário