Crônica: OS HOMENS TRISTES
Perguntaram-me
por que homens tristes, por que "meus homens tristes". A pergunta não
tinha um tom de reprovação, mas nela se notava uma pitada de estranheza diante
da legenda do desenho, como quem, por baixo, às escuras, perguntasse "por
que você fez isso? você, que podia ter feito outra coisa, fez justo essa? por
que não 'homens felizes', os 'seus homens felizes'? por que não a felicidade em
lugar da tristeza?" Queria ter uma resposta. Perdoe-me, por favor. O
leitor começa a se irritar com tanta desculpa ("você vive de
desculpas"), com essa perda de tempo que tece todo texto: mais um texto
que não dá resposta, ao lado de tantos outros que fazem a maldade de perguntar
e me deixar aqui, na mão. Tenho muita coisa para fazer. O mundo nada mais me
oferece, e eu venho aqui gastar o tempo com você, e você só me faz fazer hora.
O leitor terá sua razão. É verdade. Para que propor uma questão se não há
resposta? É como quem o convida para ir ao cinema, mas diz que você terá que
pagar, porque ele não tem dinheiro. Não, desculpe. Pode parecer isso, mas juro
que não sou assim. Se não posso convidá-lo para ir ao cinema, que está caro,
você sabe, convido-o para tomar um café. E eu pago a sua xícara. Reformulo a
questão: por que a tristeza, que é tão ruim, é que acompanha esses "homens
tristes"? Esses homens, os meus, eu não sei. Mas em geral, nisso que
costumamos atribuir à artefatura dos homens, a tristeza é como um fungo. Quase
todo fungo faz mal. Faz tossir, irrita a narina, destrói o pulmão, faz coçar o púbis,
a sarna que arranca o couro do cão de rua e a micose que fere entre os dedos do
pé. Muita vez, se comido, mata. Mas há uns, o leitor sabe, sem os quais não há
queijo, o pão não cresce nem a cevada fermenta aquilo que há de ser a cerveja.
Os fungos são ruins. Quem quer uma parede cheia de fungos? Mas não é rara a necessidade
de deixar o fungo crescer as hifas, expandir o micélio, apoderar-se das coisas,
comer a matéria e rearranjá-la, para fazer vir à tona uma outra coisa. Quem
sabe esses traços que em geral redundam em homens tristes não sejam algo como
deixar a umidade tomar conta da parede para descobrir de que cor os fungos vão
pintá-la?
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