O cineasta e escritor Jorge Arbage escreve sobre o 'Enciclopédia de História Natural, contos'
Um
escritor que já nasceu velho, maduro em estilo, adicionou mais um livro à sua
obra. Abro a contracapa, vejo o rosto de meu colega. O tempo parece não o
afetar: conserva os mesmos traços de outrora, um fac-símile de suas fotografias dos tempos escolares, imutado pela
passagem dos anos. Na descrição, leio a respeito dos cinco livros que escreveu.
Não é de se espantar, portanto, que aquele homem nascido em São Paulo, em 1996,
é escritor.
No
entanto, eu diria que além de escritor, Eliakim é também poeta. Não o poeta no
sentido comum (afinal, seria redundante considera-lo poeta e escritor), mas o
poeta no sentido visceral do cotidiano, isto é, à moda da tradição cabralina, o
rebelde que renega as afetações e adentra no cerne mineral da coisa. E veja só: assim nasce, também, um
cronista.
Não
foi coincidência, pois, que Eliakim tenha adentrado na cena literária
primeiramente como poeta. Poiesis. A
palavra vem do grego: a arte de criar algo a partir do nada. Sempre me lembro
da frase de Eliot (aliás, nunca tive a chance de perguntar a Eliakim: what do you think of Eliot?), na qual o
poeta diz que a poesia não é a erupção das emoções, mas o escape delas; não é a
expressão do indivíduo, mas a fuga dele - e o que será a enciclopédia senão a
compilação impessoal, distante, objetiva, do mundo?
Um
olho no microscópio e outro no telescópio.
Jorge Arbage é escritor, cineasta, historiador, autor de A paz sem honra: os Estados Unidos e o fim da Guerra do Vietnã (Lisbon International Press, 2023), Calabar e outras histórias (contos, Chiado, 2021) e O ano zeo: A revolução, Pol Pot e o Khmer Vermelho (Fontenele, 2019).
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