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Mostrando postagens de junho, 2023

O poeta, tradutor e crítico literário Anderson Lucarezi comentou a respeito do 'Enciclopédia de História Natural, contos'

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Com relação à primeira parte, embora você tenha dito ter restrições referentes ao primeiro conto, a estrutura tripartite da narrativa tem seu valor; cria modulações e busca mesclar perspectivas. Achei "Os brincos de Maura Lopes" e "O sumiço do papagaio" muito presos à dimensão puramente anedótica, ainda que eu tenha gostado da cena na qual as mulheres estão jantando enquanto os brincos tilintam nas orelhas, pois vi forças imagética e sonora ali. Creio que na "Resenha às Crônicas de Sidéria" o livro começa a crescer no que diz respeito às experiências ficcionais. Algo ali me remeteu a  histórias do Borges, como , por exemplo, "A Biblioteca de Babel". Inicialmente achei que o conto estava atrelado demais a alguma ilustração de conceito filosófico, mas numa segunda leitura essa impressão se dissipou. A segunda parte do livro, "Bestiário", no entanto, é, pra mim, onde estão os contos que me despertaram mais interesse. Eu, aliás, já havia co...

O crítico literário e poeta Alexandre Shiguehara escreveu sobre o 'Enciclopédia de História Natural'

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  O novo livro de contos de Eliakim Ferreira Oliveira, Enciclopédia de história natural , tem um prefácio breve e instigante, assinado pelo próprio autor.  Em poucas linhas, ele registra uma percepção da etapa presente do seu percurso de intelectual e escritor: “(...) estou mais velho do que antes, e as coisas, em vez de se ordenarem à visão, abraçam o péssimo do desajuste.” A inquietação vem, conforme a explicação de Eliakim, do contraste com a sua expectativa anterior  (“a esperança de que, mais velho do que fui, o tempo me trouxesse mais nitidez – me concedesse, por insistência, a impressão de mais ordem nas coisas, sem excesso nem falta”).             Segundo a conhecida definição de Antonio Candido, na literatura clássica a linguagem corresponde ao mundo, sem excesso (caso do Barroco) nem falta (caso do Romantismo). A expectativa de Eliakim em relação ao próprio amadurecimento, assim,   parece estar relac...

O cineasta e escritor Jorge Arbage escreve sobre o 'Enciclopédia de História Natural, contos'

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  Um escritor que já nasceu velho, maduro em estilo, adicionou mais um livro à sua obra. Abro a contracapa, vejo o rosto de meu colega. O tempo parece não o afetar: conserva os mesmos traços de outrora, um fac-símile de suas fotografias dos tempos escolares, imutado pela passagem dos anos. Na descrição, leio a respeito dos cinco livros que escreveu. Não é de se espantar, portanto, que aquele homem nascido em São Paulo, em 1996, é escritor . No entanto, eu diria que além de escritor, Eliakim é também poeta. Não o poeta no sentido comum (afinal, seria redundante considera-lo poeta e escritor), mas o poeta no sentido visceral do cotidiano, isto é, à moda da tradição cabralina, o rebelde que renega as afetações e adentra no cerne mineral da coisa . E veja só: assim nasce, também, um cronista. Não foi coincidência, pois, que Eliakim tenha adentrado na cena literária primeiramente como poeta. Poiesis . A palavra vem do grego: a arte de criar algo a partir do nada. Sempre me lembro d...