Resenha de Gabriel Frizzarin a 'Contrata-se cronista, paga-se bem: crônicas, contos e desenhos'

Autor de Polióptico (poesia, Corrégo, 2019), Canteiro de obras (poesia, Versos em Cantos, 2020) e Uma mesa de tamanho normal e outros contos do tamanho do bilhete do suicida (contos, Ibis Libris, 2021), Eliakim Ferreira Oliveira oferece ao público seu mais novo livro de crônicas, gênero que, como indica o prefácio de Felipe Lopes, parece não caber mais nos dias de hoje, mas que por isso mesmo atesta a pertinência do livro que temos em mãos. Contrata-se cronista, paga-se bem transforma os eventos cotidianos, aparentemente banais e sem a menor importância, em assunto literário com tom anedótico. As sessões de análise, o percurso enfadonho de uma viagem, a falta de familiaridade com os jogos de futebol e o apreço pelos hinos de clubes, uma mordida de cachorro e a presença de um senhor longevo em uma papelaria tornam-se componentes de uma narrativa que explora, sempre de maneira jocosa, os incidentes que poderiam surgir dessas experiências triviais. Além disso, Contrata-se cronista, paga-se bem não esconde as referências literárias com as quais flerta, pelo contrário, situa-as no interior das narrativas e as coloca em movimento: procura escrever uma crônica de Rubem Braga, inventa uma memória com Hemingway, conversa com Fernando Sabino e até mesmo sugere ter cruzado com um certo capitão Rodrigo. Embora a narrativa não perca de vista a particularidade de momentos e de locais, não se pode considerar que o livro de Eliakim Ferreira Oliveira estacione nessas categorias, pois o eixo que delineia as suas crônicas reside no trabalho de releitura dos acontecimentos, reescrevendo episódios, construindo personagens, inventando diálogos e exagerando situações para provocar a surpresa e a descontração do leitor. Conduzido por uma escrita clara, simples, livre de artificialidade e elevada à naturalidade da expressão oral, Contrata-se cronista, paga-se bem coloca o leitor às voltas com textos criativos e com a experimentação literária de Eliakim Ferreira Oliveira, poeta, contista e, agora, cronista.


Gabriel Frizzarin, filósofo




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