POEMA: "O BESOURO ESMERALDA ou DA CASA PRÉ-FABRICADA (1 e 2)", in 'Canteiro de obras' (Versos em Cantos)

 

O BESOURO ESMERALDA ou DA CASA PRÉ-FABRICADA

                                                        (apud Eduardo Longo)

1.                   Besouro arquiteto,

mas à contracanteiro:

sendo obra de si mesmo,

a via que lhe é meio,

arma-se este pedreiro

a ponto de doer-se

na erguida e escalada

(— como dar voo à

coruscante carcaça?)

 

E como o arquiteto (o

de canteiro) chamaria

a curva sacarídea

que o envolve e o recobre

— dura carga? Quitina?

Alumínio? Concreto?

Verde ferro ou cobre?

 

Se arma uma criatura

cuja vida-invólucro

cintila à esmeralda,

é tal recém-criada

matéria, novíssima

no catálogo: a

que faz do brilho-peso

armadura de argamassa

sobre um corpo áporo.


O BESOURO ROLA-BOSTA ou DA CASA PRÉ-FABRICADA

 

2.                   Um outro, no entanto,

esférico arquiteto,

a bola empurrando,

empurra o próprio teto.

 

É como se, casa de quitina,

procurasse outra casa, no eito:

e passasse a vida rolando

um teto suspenso no esterco.

 

Então, a matéria da casa,

achada no chão roçado,

fosse feita pau a pique,

sobra de solo arrendado.

 

Mas, como é típico de bicho,

o teto é contra o quadrado:

se para o homem tudo é reto,

para o bicho, arredondado.

 

Faz assim: sendo ninho, buraco,

sempre uma curva que é cerco:

— o do besouro, portanto,

se é teto, é também bola de esterco.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica: A ÚLTIMA EDIÇÃO DO 'ANTES QUE EU ME ESQUEÇA', DE ROBERTO BICELLI (I)

O poeta, tradutor e crítico literário Anderson Lucarezi comentou a respeito do 'Enciclopédia de História Natural, contos'

Resenha à 'Interpretação de Muitos Mundos' (Ed. Versos em Cantos), de Juan Castro, no prelo