Resenha a 'Canteiro de obras', por Bruno Rosa

Sim, esse livro se compõe de muitos livros, como se lê em um de seus poemas, mas não só dos muitos outros livros de poesia, dos quais ele extrai temas, motes, inspirações, se compõe a obra – literalmente, que esse autor leva a sério essa palavra. Pois o autor também é filósofo e, como filósofo, traveja seu edifício com as vigas de um método crítico cuja inspiração mais imediata poderia ser entendida como “dar um contorno bem definido às palavras”, desdobrando-se, por isso mesmo, na sua parelha correlata: “discernir-lhe com precisão os seus limites”. Talvez por aí se enverede as metáforas de eleição desse livro: limar, cortar, amolar, polir – todos verbos que, de certo modo, ao mesmo tempo que constituem uma coisa (com seu corte), demoram-se em suas arestas, em suas rebarbas, aparando-as, amolando-as, açulando seu gosto por uma delimitação bem precisa, tão precisa que às vezes sabe ao gume afiado de uma faca. Quem passear por esse Canteiro de obras não sairá, por certo, coberto pelo pó usual das construções que pululam pela cidade, mas sairá, seguramente, coberto por uma fina poeira, singular em sua matéria, singularíssima em sua física, que sobeja dos atos de que se compõe esse livro – um pó capaz de "entortar os prédios, os viadutos", capaz, enfim, de asfixiar o leitor ambientado a esse canteiro onde o “como se faz” da poesia está às vistas, e em pleno exercício.






Comentários

  1. Um livro que obedece a um projeto de construção do edifício da Poesia, tijolo por tijolo, palavra por palavra.

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