Raquel Naveira, leitora de 'Canteiro de obras' e 'Polióptico'

Por Raquel Naveira 


Chegaram os livros de poemas do jovem poeta paulistano, formado em Filosofia, Eliakim Ferreira Oliveira.

Canteiro de Obras (São Paulo: Versos em Cantos, 2020) é um conjunto de poemas que seguem um projeto: metapoesia utilizando palavras do universo da engenharia, da construção, da arquitetura, das ferramentas: fundação, pó, prédio, tijolo, cimento serralheiro, pintura de paredes, espátula, grafiato....
Os poemas nos remetem à música "Construção", de Chico Buarque ("Tijolo por tijolo num desenho mágico"), ao método árido do fazer poético de João Cabral de Melo Neto.
O poema "Amolador de Facas" nos lembrou a Arte Poética, de Horácio, onde ele usa a imagem do amolador para explicar o trabalho da lima, do aparar palavras que sobrem na poesia. Trecho do citado poema:

"Amolar, gesto lírico,
Dar à faca um ritmo
Que arranca o excesso,
Que lhe tira, lhe rouba,
Para dar-lhe caminho reto
- rasgo à longitude do braço,
Ao horizonte do colo,
Hábito da faca e indesejável vezo
Do cutelo."
No livro Polióptico (São Paulo: Córrego, 2019), o foco são os "olhos", "o olhar", "o óptico", as sinestesias da visão.
Inúmeras referências como substratos: o Pequeno Príncipe e seu: "O essencial é invisível aos olhos"; o cinema de Hitchcok; o ciclope Polifemo da Odisseia; textos bíblicos. E tem Bicelli, Drummond, Rubens Rodrigues Torres Filho.

A Rubens dedica o tocante poema "O Olho do Poeta". Trecho:

"Aí o poeta perde-se
Entre coisas
Que pensa ver
Enganado pelo
Sol que tem
No olho
Súbito, arranca-o
Com a mão e uma adaga:
Ó poeta
Que descobre
Que ver a coisa mesma
É não ver nada!"
Sim, Eliakim, o poeta é meio Édipo perdido, depois da revelação de sua culpa. Com o olho aberto para uma visão artística e ampla.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ensaio: RUBENS RODRIGUES: O "STRIP-TEASE" DA PALAVRA