Dizer o ver, de Bruno Rosa

 

 

Dizer o ver

Para Eliakim e seu Polióptico

 

O que esse Polióptico

nos dá a ver

Com as mil dioptrias

Com que calça ou poli

o gênio de seu fazer

Açulando a vista

Isto é, irritando-a,

Retesando-a até doer

Para ir mais além, quem sabe,

do que se dá a ver

ou mais aquém, diríamos,          

do que se usa para o apreender;

Além do claro-

escuro em que

o ser não-ser

não se decide

entre mostrar-se,

ou seja, ser

traindo o olho

e a si mesmo

no que dá a ver

ou elidir-se

como se oculto

atrás do visto

ou no não-ser

no escuro recôndito

âmago opaco de

seu próprio anoitecer;

Além do que se apanha

no entreato

ou descortina-se

no entrever

na imagem fresca

sobre a retina

e antes de se

a apreender

conscientemente,

isto é, torná-la

um objeto

para um saber

Enfim, o que essa Polióptica

Nos ensina (a ver?)

É que o olhar da poesia

Apenas a si mesma se pode ter,

Que é a sua luz que acende as coisas

Que irradiam em seu dizer

Enfim, que é consigo

e somente consigo

que ela

(a poesia)

tem a ver.

 

Bruno Rosa, 2020.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ensaio: RUBENS RODRIGUES: O "STRIP-TEASE" DA PALAVRA

Raquel Naveira, leitora de 'Canteiro de obras' e 'Polióptico'