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Mostrando postagens de abril, 2019

Ensaio: RUBENS RODRIGUES: O "STRIP-TEASE" DA PALAVRA

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Eu já vinha conversando sobre a poesia desse autor com alguns amigos, em especial o poeta  Roberto Bicelli , que conhece o poeta Rubens. Na verdade, faz tempo que tenciono escrever algo sobre esse autor. A obra de Rubens é pequena e muito original. Em 1981, Rubens publica, juntamente com os Jardins da Provocação de  Claudio Willer , em edição de Massao Ohno, O voo circunflexo . É, como alguém disse, um livro-jogo, mais exatamente um jogo que circula no cancioneiro de sentido e nonsense . Nesse livro, Rubens segue à risca os imperativos de Drummond: "não faça versos sobre acontecimentos", "não cante tua cidade", "não dramatizes", "não invoques" e, o mais importante, que é síntese e fundamento: "penetra surdamente no reino das palavras". Isso resultou numa poesia que é, sobretudo, signo de , pouco signo para : poesia que tende a ser única e exclusivamente do signo. O título, nesse sentido, não é gratuito: o voo circunflexo é já um sign

Crônica: MANUAL DE COMO LIDAR COM A MORTE DE UM GRANDE AMOR

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     Eu me apaixonei por ela em A Paixão de Ana , disputando seu amor com um casal que não se entendia. Éramos um quadrado amoroso. Pedi a mão dela em casamento em Morangos Silvestres . Ela recusou. Era jovem, tinha amigos, uma vida inteira pela frente. Reencontrei-a comprometida com um loiro enorme em O sétimo selo . O homem usava uma armadura, deveria ter uns dois metros de altura, parecia um viking . Por mais que eu quisesse  fazer um escarcéu, envergonhá-los na frente dos outros, chamá-la de loira bruaca, chamá-lo de monstro das alturas, recuei: é que o homem já estava para morrer e não tinha mais nada a perder. (Nunca ofenda um homem que não tem mais nada a perder.) Quando eu a vi em Persona , senti que de algum modo tínhamos reatado. O que não significava muito, nem para mim, nem para ela. No fundo, eu nunca tinha desistido dela. Ela, assim que me viu pela primeira vez, desistiu de mim. Adeus, Bibi, descanse em paz.             (A propósito da morte de Bibi Andersson.) Sã

Ensaio: QUANTO PESA UM POEMA

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           Há dois dias eu mostrava um poema de  Roberto Bicelli  para uma amiga. Roberto é jovem, de aparência e espírito, mas escreveu um poema de pouco mais de trezentos anos: SPLEEN STRESS             Não preciso dizer que a referência é aos humores que marcaram a produção literária nos séculos XVIII, XIX, XX e — por que não? — XXI (ou o XXI já é um terceiro humor: DEPRESSION?). Poema de longa data, sintético, muita matéria e energia condensadas. Se lhe abrirmos uma fresta (por favor, não faça isso), explode. Pedaços de Byron, Álvares de Azevedo e Álvaro de Campos para todos os lados! O horror.             Lembra, ao menos na forma, aquele poema-pílula de Oswald de Andrade, não lembra? AMOR HUMOR             Demorou muito até eu entender o poema de Oswald. O problema das pílulas é que são pequenas. É preciso olhos clínicos para saber de que são feitas. Eu sabia que era engraçado. Eu ria ao lê-lo. Mas ria de quê, me perguntava. Onde estará a chave do riso nesse