Crônica: EU!
De novo, me
ponho a incomodar papai. Desde que eu falei a ele que a filosofia é a ciência
da ciência em geral, ele gosta de ficar repetindo isso a torto e direito. Me
irrito quando vejo alguém com muita certeza. Daí resolvo iniciar uma disputa:
— Pai, você concorda que toda ciência tem um princípio?
— Concordo.
— E que, se a filosofia é a ciência da ciência em geral, ela é responsável por dar princípio às ciências?
— Concordo.
— Mas ela é uma ciência, não?
— É.
— Logo, segundo o que assumimos, tem de ter um princípio, não tem?
— Tem.
— E qual seria o princípio da ciência das ciências em geral?
Realmente eu pensei que nessa eu ia desmascará-lo. Touché, convencido! No entanto, ele me vem com esta:
— O princípio da filosofia é a dúvida.
A resposta é ingênua, mas não é nada má. Como dar um nó nele?
— Boa! Mas a dúvida não é uma espécie de movimento, de atividade? Quando digo: duvido, por exemplo. É um verbo, não?
— Sim.
— Se a dúvida é uma atividade, não pode ser o princípio. Porque seria necessário que houvesse algo pelo qual esta coisa que duvida possa duvidar, não?
— Você tá complicando — ele reclamou.
— Não estou, não. Tem que haver algo anterior a uma atividade, que seja o princípio da atividade.
Ao que ele me responde.
— O pensamento.
Astuto! Mas eu não fico atrás:
— Certo. Mas o pensamento não é também atividade? Não é um conjunto de pensamentos?
— Sim, é.
— Então, o que, no pensamento, pensa? O que liga esse conjunto de atividades?
Aí foi a glória, o gol, fogos de artifício:
— Eu!
Ele me venceu! Ele me venceu! O homem sabe das coisas!
— Pai, você concorda que toda ciência tem um princípio?
— Concordo.
— E que, se a filosofia é a ciência da ciência em geral, ela é responsável por dar princípio às ciências?
— Concordo.
— Mas ela é uma ciência, não?
— É.
— Logo, segundo o que assumimos, tem de ter um princípio, não tem?
— Tem.
— E qual seria o princípio da ciência das ciências em geral?
Realmente eu pensei que nessa eu ia desmascará-lo. Touché, convencido! No entanto, ele me vem com esta:
— O princípio da filosofia é a dúvida.
A resposta é ingênua, mas não é nada má. Como dar um nó nele?
— Boa! Mas a dúvida não é uma espécie de movimento, de atividade? Quando digo: duvido, por exemplo. É um verbo, não?
— Sim.
— Se a dúvida é uma atividade, não pode ser o princípio. Porque seria necessário que houvesse algo pelo qual esta coisa que duvida possa duvidar, não?
— Você tá complicando — ele reclamou.
— Não estou, não. Tem que haver algo anterior a uma atividade, que seja o princípio da atividade.
Ao que ele me responde.
— O pensamento.
Astuto! Mas eu não fico atrás:
— Certo. Mas o pensamento não é também atividade? Não é um conjunto de pensamentos?
— Sim, é.
— Então, o que, no pensamento, pensa? O que liga esse conjunto de atividades?
Aí foi a glória, o gol, fogos de artifício:
— Eu!
Ele me venceu! Ele me venceu! O homem sabe das coisas!
São Paulo, 15-3-2019
Comentários
Postar um comentário