Conto: O LEXICÓGRAFO TARADO


- Eu quero lamber a sua lúnula, deixa?
- O quê?
- Mordidinha no seu lóbulo, por favor?
- Que isso, Alfredo?
- Encostar a linguinha na carúncula rósea.
- ...
- Deixa eu sorver o hálux, só um pouquinho. Põe-no sobre o meu tórax.
- Tá ficando estranho esse negócio aqui...
- Não, não, você não está entendendo: se eu conseguir levar a língua à úvula, você vai tremer todinha.
- Você quer dizer à vulva?
- Não, não, à úvula, pequeno apêndice cônico, na parte superior da boca.
- Alfredo, você não me disse que era tão estranho assim.
- Não é estranheza... Vê se para de franzir a glabela, que eu me encabulo. Não vira o rosto assim, por favor, que eu vejo o seu trago. Ai, que trago gostoso! Deixa eu dar uma lambidinha, deixa.
- Alfredo, cadê minha bolsa? Eu vou embora, assim não dá.
- Faz isso, não, meu amor que eu franzo a glabela, que eu cresço o gnátio. Falando em gnátio, deixa eu chupar o seu filtro, deixa?
Ela pega a bolsa e vai embora. A solidão do lexicógrafo, que sangra qualquer coração:
- Ai, ai... E de novo e de novo. Assim pouco me apetece, que queria eu acacitá-la, para claudicar na cama.


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