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Mostrando postagens de janeiro, 2019

Crônica: FUI ABENÇOADO POR SÃO PAULO

O carioca Tom Jobim estava tendo dificuldade de mostrar ao Rio de Janeiro sua fina música, cheia de complexos acordes. Uma emissora de São Paulo, de cujo nome não me lembro, deu-lhe um programa e um bom patrocínio, elevando sua música à categoria que merecia. Sobre isso, Tom Jobim certa vez comentou com o maestro Júlio Medaglia: - Foi o primeiro dinheiro bom que eu recebi. - E foi sorte? - perguntou Júlio. Ao que Tom respondeu: - Não foi sorte, não. Nasci em 25 de janeiro: fui abençoado por São Paulo.

Chronicle: THE CHECKERBOARD

             Someone once asked Fernando Sabino, brazilian writer, why he used to write.             - Why literature, Fernando? Why do you write?             - I write - he said - because I don't know, so that I write to know.             The metaphor Fernando used to cite that of the checkerboard. The checkerboard is not white with black squares or black with white squares, but another color, on which there are black and white squares. Well, this is reality, and the literature has to show us what color is that one.

Conto: O LEXICÓGRAFO TARADO

- Eu quero lamber a sua lúnula, deixa? - O quê? - Mordidinha no seu lóbulo, por favor? - Que isso, Alfredo? - Encostar a linguinha na carúncula rósea. - ... - Deixa eu sorver o hálux, só um pouquinho. Põe-no sobre o meu tórax. - Tá ficando estranho esse negócio aqui... - Não, não, você não está entendendo: se eu conseguir levar a língua à úvula, você vai tremer todinha. - Você quer dizer à vulva? - Não, não, à úvula, pequeno apêndice cônico, na parte superior da boca. - Alfredo, você não me disse que era tão estranho assim. - Não é estranheza... Vê se para de franzir a glabela, que eu me encabulo. Não vira o rosto assim, por favor, que eu vejo o seu trago. Ai, que trago gostoso! Deixa eu dar uma lambidinha, deixa. - Alfredo, cadê minha bolsa? Eu vou embora, assim não dá. - Faz isso, não, meu amor que eu franzo a glabela, que eu cresço o gnátio. Falando em gnátio, deixa eu chupar o seu filtro, deixa? Ela pega a bolsa e vai embora. A solidão do lexicógrafo, que sangra qu

Crônica: QUANDO HEMINGWAY SE MATOU

             Você sabe que, quando eu não consigo escrever um conto, fico tentado a inventar algumas memórias para ver se sai alguma coisa. Não se deve escrever sobre o que não se sabe, que assim fica mais fácil escrever algo que pareça sincero. Lembro que certa vez perguntei ao Fernando Sabino por que é que ele escrevia.             - Não vale dizer que escreve porque é escritor! - já o adverti previamente. Só Drummond pode dizer isso!             Ao que ele me respondeu que era uma questão de testilha, de disputa de braço: preciso derrubar Ernest Hemingway. Se Guimarães Rosa, para parir um conto, tinha que sair no braço com o diabo, Fernando tinha que imaginar que estava dando uma gravata em Hemingway, e que o americano pedia arrego.             - Stop, please, stop!             - In spanish! - gritava Fernando.             - Acabe pronto, hombre!             Assim o próprio Fernando tocava a sineta, e se punha, suado, dor nas articulações, a escrever.             O problem