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Mostrando postagens de maio, 2019

Crônica: SOU A MINHA AVÓ

          Há muito tempo venho brigando com a minha psicanalista. Ela concluiu, para o meu desespero, que eu não sou o Eliakim, sou a dona Lydia, a minha avó. Não que seja um problema eu ser a dona Lydia. O problema é eu não ser o Eliakim. Se a psicanalista estivesse lendo este texto enquanto eu escrevo, diria para eu corrigi-lo:             — Não é o Eliakim que vem brigando comigo, é a dona Lydia.             De fato, sofri muita influência da minha avó. Raramente compro um presente para alguém. Raramente ela compra. Quando eu compro, vou à loja de antiguidades perto de casa. Se é para dar algo a alguém, tem que ser uma coisa antiga. Se é antiga e ainda está em bom estado, é porque dura mais. Se dura mais, é melhor. Um raciocínio típico da minha avó. Compro estatuetas, quadros, máquinas de escrever, louças. O último presente que eu dei a alguém foi um porta-joias. Era para uma pessoa que nem tinha joias. Aliás, nem sabia o que era um porta-joias. Minha avó faria isso também, sem